Obrigada Irmã Marie Jeanne

     IRMà MARIE  JEANNE

    Relato apresentado por Sr. Rosa Alaux por ocasião do falecimento de Irmã Marie Jeanne

     

                Estamos aqui reunidas, esta manhã, junto de nossa irmã MARIE JEANNE que nos deixou bruscamente. A Comunidade das Irmãs Dominicanas, presente nesta paróquia há mais de 100 anos, quer render-lhe homenagem, evocando o essencial de sua vocação e de sua pertença à Congregação.

                Irmã MARIE JEANNE foi a última de seus DEZ irmãos. Nascida, como dizia com certo orgulho, na “Cisterne La Forêt-Puy de Dôme, vilarejo ao pé do Mont Dôme, foi educada em uma família muito honrada, mas seu pai, tendo morrido muito cedo, a mãe precisou fazer face às exigências financeiras (na época, não havia nenhuma ajuda) e educativa que ela teve de assumir sozinha.

                MARIE JEANNE, como seus irmãos e irmãs, frequentavam o catecismo até o fim, mas ela nos dizia “que não gostava do catecismo e que ela não o estudava”.

                Sua adolescência chegou e ela procurava dar um sentido à sua vida. Fixou-se em um projeto de doação e de generosidade para com as crianças pobres do Brasil. Não sabendo como fazer para obter uma ajuda, seus amigos/as jovens, aconselharam-na a entrar em alguma Congregação que lhe pagasse a viagem.

                Nossa jovem MARIE JEANNE procurou um padre. Este lhe deu simplesmente 3 livros. Ela nos dizia que não lera nenhum porque encontrou logo estas palavras: Irmãs Dominicanas Missionárias no Brasil. Para ela, essa era a resposta e ela ficou firme, apesar da absoluta oposição de sua mãe. O pai morrera prematuramente.

                Logo, ela escreveu à Priora Geral de quem recebeu uma resposta favorável. Procurou um serviço para fazer face às despesas da viagem e ao enxoval.

                Foi assim que ela saiu de casa, ouvindo as palavras tão duras de sua mãe:

                            “Vá e não volte nunca mais”!

                Aqui, sejamos justas: ela se reconciliou com sua mãe, 7 anos depois. E quando esta ficou doente, a Congregação permitiu-lhe voltar para casa e ficar cuidando de sua mãe o tempo que fosse necessário. Para a época, isso foi uma exceção. A reconciliação foi total e a alegria da mãe e da filha foi imensa.

                MARIE JEANNE saiu então de sua casa, contra a vontade de sua mãe e alcançou seu objetivo. Fez uma grande viagem de Clermont a Monteils, com várias baldeações, o que durou quase um dia, mas encontrou pessoas caridosas que lhe ensinavam como fazer.

                Uma Irmã a esperava na estação de Monteils. À noite, em um lugar desconhecido, ela se sentia alegre e uma certeza a habitava: “Deus me conduziu com sua mão”.

                As Irmãs a acolheram e a confiaram ao grupo das Irmãs encarregadas dos serviços gerais, pois ela não tinha nenhuma especialização.

                Irmã MARIE JEANNE nos falava dessas Irmãs, quase todas idosas, com uma grande veneração. Elas souberam respeitá-la e a integraram à vida de oração e ao trabalho. Foram para ela um exemplo, tanto no trabalho como na vida espiritual.


    MARIE JEANNE ficou assim durante um ano, sem nenhum compromisso com a Congregação, e quando chegou a hora da decisão, ela, naturalmente, “subiu ao Noviciado”, como se dizia naquele tempo. Ao final de 2 anos, ela fez sua primeira profissão.


    Em 1937, ela foi escolhida para fazer parte do grupo das fundadoras de nossa comunidade de Montrouge. Era um colégio. Ela não podia lecionar, mas a acolhida das alunas, das internas e o trabalho da casa não lhe faltavam.


    A Superiora, na época, Madre Agnès, eleita pouco tempo depois como Priora Geral, foi também muito inspirada pelo Espírito Santo. Ela pensou que Ir. MARIE JEANNE poderia fazer outra coisa. No ano seguinte, ela foi transferida para a Comunidade de Nice, a fim de começar seus estudos de enfermeira. Ela obteve o diploma da Cruz Vermelha (o único que existia na época) em 1939 e foi enfermeira, em Nice, durante a guerra.


    Dispondo-se a servir “em tempo de guerra” em 1944, foram buscá-la em seu trabalho para se juntar ao grupo da cripta da Igreja do bairro. Nice estava sob os bombardeios. Com outra Irmã, também requisitada, ela ficou lá, noite e dia, durante 3 anos, principalmente para o reconhecimento das vítimas mortas sob as bombas.


    Após a guerra, ela trabalhou durante 10 anos na Clínica Saint Michel de Toulouse, no centro cirúrgico. Ela se adaptou muito bem nesse meio, desconhecido para ela, que deu uma nova dimensão a sua profissão de enfermeira. Ela nos dizia, muitas vezes, que esse tempo fora uma chance para ela. Aprendeu muita coisa durante esses 10 anos e pôde, enfim, realizar o sonho que estava na raiz de sua vocação: se inserir em meio simples e se ocupar dos pobres.


    Trabalhou também como enfermeira, em domicílio, nos vilarejos do Aveyron. Era muito feliz, entrava em qualquer casa e se interessava por essa vida concreta dos camponeses. Ela soube ganhar estima, amizade e confiança pelos conselhos que dava... Até hoje, falam nela.


    Uma nova responsabilidade lhe foi confiada pela Congregação. Em dezembro de 1964, ela chega a Paris, assinada em nossa comunidade da rue Taine, para assumir a direção do Dispensário que acabara de ser reconhecido, estando conforme às leis, por um convênio da Segurança Social.

    Triste por deixar o meio rural, Ir. MARIE JEANNE logo assumiu com inteligência e motivação os cuidados de saúde, nessa nova estrutura. A continuação, ela viveu entre nós. Nós a conhecemos.


    Durante 40 anos, Ir. MARIE JEANNE percorria as ruas, respondia aos chamados, sem distinção de etnia, classe social, opinião política, religião, favorecendo todos, não somente com seus cuidados de enfermeira, mas como escuta, conselhos, ajuda aos mais fracos para a defesa de seus direitos, apoio moral e espiritual.


    Depois que se aposentou, ela soube aconselhar e apoiar as enfermeiras que a sucederam e que formavam, com ela, um grupo unido, prolongando, de outra maneira, a Missão da Congregação.

    Assim se encerra, na paz e na ação de graças uma página de história de nossa Congregação, realizada nesta casa pelas gerações de Irmãs que se sucederam no serviço dessa população do leste parisiense. Iniciada, na maior pobreza, em janeiro de 1897, à rua Wattignies, nº 17, não parou de se desenvolver e de se adaptar em função das necessidades e da evolução das leis.

    Ao final dessa cerimônia, cantaremos o Magnificat como Ir. MARIE JEANNE nos pediu, dizendo que “DEUS A CONDUZIU POR SUA MÃO”, “QUE ELE LHE ABRIU OS BRAÇOS E LHE TOMOU TUDO”.


    Paris, 23 de janeiro de 2018


    Soeur Rosa Alaux

     Soeur Huguette Charlemagne.  

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